segunda-feira, 7 de abril de 2008

Sobre Egos e Álteres

Uma das sensações mais esquisitas que experimento, na minha lida cotidiana com as pessoas, é uma forte angústia quando tenho que me confrontar com situações em que a disputa por um lugar superior fica evidente. Sinto-me verdadeiramente incompetente para disputar espaços, num enfrentamento direto. Nunca soube lidar bem com isso. Desde pequeno. Aliás, se fosse eu um animal pura e simplesmente que dependesse da competição para conseguir um lugar ao sol, creio que morreria à míngua, ou atravessado pela ferocidade de uma mandíbula dilacerante, sedenta por extirpar do mundo mais um empecilho ao brilho de seu pelo. Tenho plena consciência de que isto é algo muito comum e, até certo ponto, "natural" (no sentido estrito do termo). Entretanto, o que me causa espanto a mim mesmo, é essa sensação de angústia. Reveladora de uma dificuldade para enfrentar uma situação típica do mundo adulto.Mas, deixe-me desenvolver mais esta idéia.

Dentro deste universo específico da competição, em que ela se manifesta das mais variadas maneiras, a disputa pela detenção da "melhor", da "mais verdadeira", da "mais inusitada" informação é a que mais me incomoda. É acintoso como se quer mostrar um certo poder, diante da revelação do "último furo". É como se estivesse diante de um festival de manifestação de Egos em que o "ter o último carro", "ter o último music player", ter a "roupa da última moda", o da mais elegante ou sofisticada grife, enfim aquilo que tipicamente caracteriza a superficialidade no mundo do consumo real, fosse substituído pela "nobreza" da informação. Como se a detenção e a exibição do conhecimento fosse mais nobre do que a detenção e exibição dos sofisticados itens de consumo aludido: o carrão, a roupa, o equipamento eletrônico, a moda etc. É certo que, em se tratando de vida em coletividade, é praticamente inevitável esse mecanismo. A questão é que, para mim, isso poderia ser evitável pelo menos entre pessoas que valorizam aquilo que considero essencial nas coisas em si: o conhecimento pelo conhecimento; o afeto pelo afeto.

O engraçado é que consigo separar bem a sensação de incômodo (e eu busco sempre algo em mim quando "algo" exterior me incomoda) da pessoa - ou grupo de pessoas - que a provoca.
Ontem, senti isso com uma intensidade muito forte. O que, em tese, seria um prazer, acabou se tornando um angustiante exercício de mortificação e de tentativa de superar a angústia.

Por que será que mexe tanto comigo uma certa sensação de incompetência, de incapacidade, de limitações - cuja sensação sei perfeitamente que é infinitamente maior do que aquilo a que, na realidade, elas se referem. De qualquer modo, a sensação está ali e é como se a própria coisa (incompetência, de incapacidade, de limitações) existisse de fato.

Tenho tentado trabalhar estes fatos em minhas sessões de psicanálise. Mas ainda estou muito longe de compreendê-los e, mais ainda, de saber o quê realmente eles significam pra mim. Meu analista tem sido muito perspicaz e tem colocado alguns pontos interessantes. Mas estou longe de entender qual o real grau de densidade que esta questão possui: pode parecer uma simples fuga do enfrentamento (necessário) do outro a que nos submetemos cotidianamente (hipótese mais, digamos, evidente) ou pode realmente ser um questionamento mais profundo sobre a condição existencial do ser humano.
(interrompido por um telefonema e não mais retomado)


(Escrito originalmente em 07/04/2008, caída no esquecimento no campo oculto do blog, esta mensagem foi relida e publicada em 08/05/2009, com algumas correções (sem alterar o seu conteúdo original).

Palavras Iniciais

Olá,

Bem vindo a um espaço que, antes de mais nada, é despretensioso. Ou melhor, se há alguma pretensão é a de exercitar a arte da escrita, refletindo livremente sobre fatos, idéias, cinema, filosofia enfim, tudo o que valer a pena pensar.

Como se não bastasse a exigência da profissão, eu mesmo me impus a necessidade de registrar meus pensamentos os quais, reconheço, considero valiosos pela única e exclusiva razão de serem meus, de representarem meu ponto de vista sobre as coisas. Nada mais. É, pois, nesse exato sentido que me refiro à ausência de pretensão. Quero apenas falar. Falar livremente. E se o transeunte cibernético que por aqui se aventurar sentir que vale a pena iniciar um diálogo a respeito das idéias apresentadas (as quais, já adianto, não serão tão aprofundadas), vou sentir que terá alguma utilidade para além da minha própria extravasão.

Apesar de relativamente antigo, eu me esqueci completamente da criação deste espaço. Nele havia deixado, oculto, um único texto que resolvi publicar mesmo estando inacabado. A ele retorno com o propósito de alimentá-lo com mais frequência, o que para mim será extremamente benéfico, inclusive do ponto de vista pessoal. Vou aproveitar para registrar outros escritos, feitos em outras épocas - pré-internáuticas ainda - que certamente revelarão um outro Fred (principalmente para aqueles que já me conhecem).

Espero que o leitor que por aqui passar possa encontrar alguns pontos sobre os quais pensar. E, se sua generosidade permitir, deixar a contribuição de suas opiniões e seus pensamentos a respeito do que encontrar registrado para, inclusive, provocar minha contrarreflexão.

Boa leitura e obrigado pela visita.
Fred

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