domingo, 19 de outubro de 2014

O que faz diferença pra você? - um depoimento pessoal


Escrevo, pela primeira vez, para falar o meu ponto de vista e abrir o meu voto que, pelo que já deixei claro, todos os que me conhecem já sabem. Mais do que nunca, estou muito dividido e, pra mim, é muito séria esta divisão porque ela acontece quando o partido que sempre idealizei (e no qual sempre votei) está protagonizando uma das disputas mais acirradas dos últimos tempos. E não se trata de uma divisão superficial, mas de algo muito profundo e denso. É sobre esta divisão interna que quero falar. 

Esta semana, tive oportunidade de ter uma conversa longa e profunda com uma amiga minha, a Cristina Helena, economista muito competente (além de querida), professora de algumas das melhores universidades de São Paulo, que é eleitora do Aécio Neves. Foi uma conversa muito boa e esclarecedora. E surpreendentemente tranquila, como dificilmente se consegue ter entre pontos de vista antagônicos nos tempos que correm. Para mim, confesso, foi uma aula muito bacana de economia. 

Não vou aqui detalhar todos os senões e pormenores da conversa porque tornaria este texto leviano, na medida em que não sou economista e não saberia reproduzir todos os detalhes do que a Cris me falou. Entretanto, apesar de ser eleitora bem consciente, ela me descreveu um panorama para 2015/16 que foi realisticamente exigente, nada tranquilo (mas também, nada catastrófico). Não tem jeito. O aperto virá de um lado ou de outro. Até por conta do que os economistas tem apontado para o cenário da crise internacional. Seja sob Armínio Fraga ou sob Guido Mantega, sofreremos um pouco até que novamente a inflação esteja sob controle e o país volte a crescer. E, com base em argumentos muito técnicos, que eu não saberia reproduzir aqui, ela me traçou um panorama razoavelmente detalhado do que significaria um ou outro para o Brasil. Por caminhos bem distintos, os efeitos seriam parecidos, mas por mecanismos diferentes. Pensei, com meus botões: sabe que é a primeira vez que ouço uma análise bem razoável e imparcial; e ela pode estar bem certa até porque (não sei se por intuição) as pesquisas de intenção de voto mostram ser esta a eleição mais polarizada que temos em 25 anos. Mamma mia, pensei: Sabe aquela história, "Se correr o bicho pega; se ficar, o bicho come"?

Ao final, ela muito honestamente me falou uma frase que, pra mim, fez todo sentido: eu estou dividida porque, como economista, não vejo muita saída; qualquer que seja a escolha, o resultado lá na frente será muito parecido; a diferença, em suma, é que com Mantega a recomposição da perda será gradual porque eles vão preferir não dar choque inicial e não arrochar para não comprometer políticas sociais; com A. Fraga, a paulada seria inicial, provocando perdas que seriam recuperadas paulatinamente ao longo de 2015; então, tenho que pensar em outras referências para tomar minha decisão. Por exemplo:  ou você prioriza o social com um certo sacrifício econômico; ou você prioriza a manutenção dos ganhos econômicos para, com o crescimento, posteriormente investir em políticas sociais. 

Pronto, pensei! Matou a charada pra mim! (E... caramba... essa história de "fazer o bolo crescer pra depois dividir" já não ouvimos antes? Em plena ditadura? Fala de um dos generais: "Que os ricos sejam cada vez mais ricos para que, por meio deles, o pobre seja menos pobre!" Wow!!! - Esta fala está no vídeo Brazil, muito além do cidadão Kane, mas o general não é identificado.) O que ela me falou, acabou resolvendo, pelo menos em parte, o imbróglio interno em que estava. Em parte! Mas não tudo. (Reiterando que não quero e não posso entrar num debate econômico. Este não é o ponto central deste texto.) 

O que a Cris me falou me fez todo sentido! Porque, como ela (mas por razões diferentes), eu também estou dividido. Não a divisão básica e trivial entre Dilma e Aécio; ou entre PT x PSDB. E uma divisão para além das opções econômicas ou ideológicas. Mas é uma divisão logicamente anterior e bem mais profunda. É a divisão entre os fundamentos éticos da governabilidade e a necessidade de honrar compromissos com a gestão pública para o público. Aqueles compromissos para realmente tirarmos o país do fosso e cumprirmos nossa sina de sermos uma grande nação. Uma divisão que me faz pensar o quanto tudo isso deveria sacrificar a ética na gestão pública. Sim, porque se formos levar isso em consideração, como bem disse um dos inúmeros textos que li no Facebook, quando se fala de corrupção, "só há telhados de vidro" (confesso que adorei esta expressão). E não saímos do lugar. 

Coincidentemente, numa outra conversa (desta vez pelo face), com um outro colega eleitor de Aécio (que também está super dividido, pela primeira vez), o Pedro, com quem também tenho conseguido dialogar de maneira civilizada e engrandecedora (e a quem agradeço sempre o bom debate), fui questionado sobre este ponto a partir da divulgação que fiz da notícia saída na última sexta feira (17/10) sobre irregularidades no governo Aécio Neves em MG. Vou reproduzir aqui o diálogo. 

Pedro: Oi Fred, preferi postar inbox, e só para você, caso você prefira que não apareça em seu post. O fato sabido de que houve corrupção em outros governos não autoriza ou ameniza o fato de que haja neste. O mundo não deveria ser medido em PT x PSDB. Mas entre o que é ético e o que não é. Esta é minha dificuldade em votar, nesta eleição. Se você embarca na ideia de que a polarização é entre os dois partidos, pode cair no argumento infantil: foram eles que começaram. Vai haver sistema de cota corrupção, uma vez que as elites já foram corruptas quando exerceram o poder? Não é muita auto-indulgência? E o atual governo responde pela realidade desta história triste no momento. É quem está no poder federal há 12 anos. Desculpe, entendo o empenho em eleger quem você pensa ser melhor, e que talvez não caiba expor autocrítica em meio à luta. Mas deve haver algo melhor a dizer do que "eles também fazem". Abraço do amigo em discordância...

Fred: Pedro, entendo o que você diz e concordo plenamente. Sou totalmente afinado com seu pensamento. Na verdade, esses meus posts são mais uma resposta à pobreza do debate que vem à minha página e, principalmente ao meu whatsapp por defensores do Aécio e com um discurso monotônico sobre corrupção. Como sou mais racional em termos de política (já fui mais idealista e, até certo ponto, purista), já nem faço mais este debate sobre ética. Porque aí, meu caro, nós teríamos que eleger algum marciano. E outra coisa importante: sinceramente, não tenho o menor empenho em eleger a Dilma ou o PT, de quem já me distanciei há muito tempo (torci pela Marina em 2010 - ufa, ainda bem que deu errado!!!). Mas é um discurso muito mais anti Aécio e anti tudo o que o PSDB representa de regresso ao Brasil antigo que a gente conhece bem. Disso, eu tenho plena convicção. Se houvesse alguma alternativa, certamente eu estaria com ela. Mas não há. E diante do atual cenário, estou tentando usar o cálculo weberiano entre fins e meios possíveis para se chegar a ele. No meu caso, o fim (para além da ética que nós dois temos como valor - não há como não ter) é ver um Brasil com mais conquistas sociais, com mais inclusão por renda, por educação, por saúde e em todos os campos. No mais, meu amigo, nossas bandeiras são muito parecidas. Grande abraço e obrigado pelo debate sempre de bom nível. Gosto muito.

Para além de expressar a capacidade de fazer críticas e construir um diálogo em que os dois ganham (o que, por si só, já vale a pena), estas duas conversas contêm alguns pontos importantes. 

O primeiro, concordando com o Pedro, é o reconhecimento de que a ética na governança da coisa pública não deveria ser algo menor. Não deveria ser sacrificada em nome de interesses de objetivos da construção da nação (nem mesmo os ganhos sociais). Isso dá uma bela discussão no campo da Filosofia Política. Sob muitos aspectos (inclusive no da corrupção), nenhum dos lados é melhor do que o outro e, concordando plenamente com o Pedro, tento não cair nessa de que "quem começou primeiro" ou, o que é pior, "se ele fez, eu também faço". Isso seria pueril e ridículo. Só replico as notícias de corrupção do PSDB porque a memória histórica dos brasileiros em geral é muito curta. E todos fazem questão de atribuir a prática única e exclusivamente ao PT. É como se somente o PT e seus integrantes praticassem a corrupção. E, pior, como se não houvesse seriedade no combate a ela. Não que o combate (como alega a candidata Dilma - tema sobre o qual já conversamos muito) deva servir de leniência para a prática do fato. É uma obrigação. E sobre isso, reconheçamos (os dados estão aí para mostrar), o PT fez muito mais do que o PSDB nas várias esferas importantes em que governou (MG e SP são exemplos contumazes, além do governo FHC). Mas não há como negar a sua importância no cenário da disputa.

Combate à corrupção: números, cobertura da mídia e percepção da população
Concordo também com o Pedro de que este foco da corrupção no PT se deve, em grande parte, ao fato de que o partido está há 12 anos no poder protagonizando este cenário, tornando-o alvo fácil de acusações. E completo dizendo ainda que, no caso do PT, tem um agravante: a bandeira da ética sempre foi uma das mais importantes de toda a sua história. E ter caído nesse mar de lama, pra mim, foi o principal elemento que me fez afastar do partido. Pra mim e pra muita gente boa e ilustre que abandonou o partido por este motivo. Mas perder a memória das práticas de corrupção das gestões anteriores (e até mesmo das atuais, nos estados onde administra o PSDB) esquecendo-se delas e construindo o PSDB como alternativa a isso, não me parece adequado. Não só como alternativa: nos discursos que vejo na minha timeline (Facebook) ou no Whatsapp, é como se ele realmente fosse o salvador da pátria, o grande redentor! E, nesse sentido, a mídia tem desempenhado um papel pra lá de condenável. É nítido o tratamento desproporcional (qualitativo e quantitativo) aos escândalos dos dois lados. 

O segundo ponto importante, é o reconhecimento da total falta de alternativa frente às opções que temos e que, como expresso na conversa com a Cris indica. Nesse sentido, o que menciono sobre o cálculo weberiano (cf. Max Weber, um dos grandes clássicos do pensamento sociológico e econômico) é o que está me conduzindo à escolha. Meu diferencial, como deixei bem claro na resposta ao Pedro, é o Social. Lutei por isso a vida toda. Sempre tive pendência para um certo idealismo na solução dos problemas sociais e na construção de uma sociedade mais igualitária, mais justa (claro que isso envolve o combate à corrupção). Decepcionei-me com a Igreja Católica quando jovem; decepcionei-me com o PT mais adulto. Mas não deixei de acreditar nisso como ideal de vida. E, de fato, não reconheço a menor possibilidade de que isso ocorra numa eventual gestão do PSDB. Nem de longe! Neste cálculo racional weberiano, tendo para o mais possível, o mais viável, para que tal projeto se cumpra. 

No meu caso especificamente, deixei de ser "petista" há algum tempo. Tanto que não incorporei a massa de eleitores de Dilma que aderem o 13 em suas fotos de perfil no Facebook e não divulgo o material específico do partido (salvo raras exceções). Apesar disso, mesmo após a desilusão, venho votando no PT porque reconheço em suas propostas aquilo que é mais próximo do meu ideal de sociedade. A esse respeito, os indicadores de Saúde, Educação e inclusão social têm eloquência própria. Infelizmente, com todos os cancros e partes apodrecidas de uma fruta e que comprometem seu sabor. É nesse sentido que o que pode deixar ainda mais acentuada a imagem de um "petismo" na minha escolha (veiculado por meus posts militantes) é o fato de ser radicalmente, visceralmente contra tudo o que o PSDB representa. Principalmente um elitismo transvestido de pseudo-intelectualidade, tão cultuado por uma sociedade com perfil ultra conservador como a nossa. E hipócrita: ao mesmo tempo que diz valorizar a educação e a intelectualidade, desvaloriza o professor na prática e usa a palavra "intelectual" e "teórico" para desqualificar qualquer argumento. É uma coisa muito pessoal. Apesar de tudo, ainda tenho muito mais asco por tudo o que o PSDB representa do que aquilo que o PT hoje para mim simboliza. 

Acho que esta eleição está imprevisível. Eu gostaria que saíssemos com um projeto de construção de um Brasil mais inclusivo, menos desigual, com mais possibilidades de modernização em todos os campos. E, sinceramente, não vejo esta possibilidade com o PSDB. Até pelas muitas semelhanças que este segundo turno tem guardado com as eleições de 1989, como já disse em outros momentos (inclusive em conversas com o Pedro), embora reconheça as enormes diferenças entre os dois, vejo muita coisa em comum entre Fernando Collor de Melo e a figura do Aécio Neves. Principalmente neste discurso social vazio, na aura sebastianista com ares de messianismo religioso (sem falar numa certa similitude na trajetória política recheada de episódios de apadrinhamentos e benefícios políticos recebidos "de mão beijada"). Tudo isso revestido por um cinismo escancarado. E quem dera que fosse o cinismo no sentido filosófico do termo! 

Fazendo coro com muita gente, eu gostaria de ver alternância de poder neste pleito. Entretanto, como disse no texto anterior, sinto falta de novos líderes, de pessoas que realmente renovem a vida política naquilo que ela tem de essencial: o cuidado, a atenção e a dedicação para a coisa PÚBLICA! O esmero no tratamento da ética. Sei que há muita gente que possui este perfil. Minha candidata eleita à Câmara Federal é um exemplo disso (Luiza Erundina), assim como o candidato derrotado ao Senado por São Paulo, Eduardo Suplicy. Conheço pessoalmente o governador do Amapá (Camilo Capiberibe), por quem, assim como seus pais, o Senador João Capiberibe e a deputada d. Janete Capiberibe, nutro um grande respeito. Tenho acompanhado com entusiasmo a trajetória política do Jean Willys, que é outro exemplo de alguém que pensa no público, nos interesses da coletividade. Assim como eles, houve e há, certamente, muitos outros no cenário político. Infelizmente, esses parecem se constituir num grupo de exceção. Ou, ao que parece, a mídia não lhes dá o devido valor, preferindo, como abutres, focar suas garras para as carniças putrefatas da sociedade. 

Mas é só a minha sensação. É só a minha opinião. É só um sonho.

Por isso, malgrado todos os percalços e adversidades, continuo achando que, no momento, a melhor opção é Dilma 13. 








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Olá,

Bem vindo a um espaço que, antes de mais nada, é despretensioso. Ou melhor, se há alguma pretensão é a de exercitar a arte da escrita, refletindo livremente sobre fatos, idéias, cinema, filosofia enfim, tudo o que valer a pena pensar.

Como se não bastasse a exigência da profissão, eu mesmo me impus a necessidade de registrar meus pensamentos os quais, reconheço, considero valiosos pela única e exclusiva razão de serem meus, de representarem meu ponto de vista sobre as coisas. Nada mais. É, pois, nesse exato sentido que me refiro à ausência de pretensão. Quero apenas falar. Falar livremente. E se o transeunte cibernético que por aqui se aventurar sentir que vale a pena iniciar um diálogo a respeito das idéias apresentadas (as quais, já adianto, não serão tão aprofundadas), vou sentir que terá alguma utilidade para além da minha própria extravasão.

Apesar de relativamente antigo, eu me esqueci completamente da criação deste espaço. Nele havia deixado, oculto, um único texto que resolvi publicar mesmo estando inacabado. A ele retorno com o propósito de alimentá-lo com mais frequência, o que para mim será extremamente benéfico, inclusive do ponto de vista pessoal. Vou aproveitar para registrar outros escritos, feitos em outras épocas - pré-internáuticas ainda - que certamente revelarão um outro Fred (principalmente para aqueles que já me conhecem).

Espero que o leitor que por aqui passar possa encontrar alguns pontos sobre os quais pensar. E, se sua generosidade permitir, deixar a contribuição de suas opiniões e seus pensamentos a respeito do que encontrar registrado para, inclusive, provocar minha contrarreflexão.

Boa leitura e obrigado pela visita.
Fred

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