quinta-feira, 4 de julho de 2013

Um problema de saúde... econômica do país!


O Ipea divulgou ontem uma pesquisa interessante mostrando o desempenho econômico das várias carreiras profissionais no país. De acordo com o blog Pragmatismo Político, numa matéria intitulada "Medicina é a profissão com maior salário e menos profissionais", com altos salários (em relação à média nacional), taxa de ocupação de 93% dos postos e falta de profissionais, a medicina está em posição diferenciada em relação a outras carreiras profisisonais. Lembrando que, como diz a matéria  (disponível aqui), o IPEA levou em conta nesta avaliação "salários, jornada de trabalho, cobertura previdenciária e taxa de ocupação", revelando que os médicos têm um melhor desempenho global. No próprio documento do IPEA há um item, logo no início intitulado "A VENCEDORA DISPARADA DO RANKING TRABALHISTA É MEDICINA, SEGUIDA DE ODONTOLOGIA E DAS ENGENHARIAS". É indispensável a leitura do documento original para se formar um juízo próprio (até porque o seu foco é sobre "ganhos e perdas salariais" e não sobre maiores ou menores remunerações - o que é bem diferente).

Apoio total à reivindicação do CFM de que não haja importação sem validação de diploma, que haja mais investimentos pra saúde etc. etc. etc. No entanto, é preciso sempre enfatizar que este problema "médico" expõe algo muito maior: não se trata de um assunto exclusivamente de saúde como se ele fosse isolado dos demais, mas sim de pensar uma política global de desenvolvimento e inclusão no país. Afinal, se, como revela a pesquisa, faltam médicos, todos sabemos que nos grandes centros (e o documento do IPEA mostra esta distribuição regionalizada) há uma sobre oferta de profissionais (isso, sem falar na qualidade duvidosa de muitas formações que sabemos serem comuns com a abertura do mercado universitários à rede privada - há até 20 anos, a esmagadora maioria dos profissionais de medicina vinham de universidades públicas com grosso investimento em pesquisa, tecnologia e treinamento, basta ver a infraestrutura dos hospitais universitários).

Se eu quero levar um médico para Eirunepé (AC), Carolina (MA) ou pro Vale do Jequitinhonha (MG) - para usar exemplos de regiões conhecidas como "afastadas dos grandes centros", é necessário pensar todos os aspectos do desenvolvimento econômico do país, tomado como um todo - e não regionalmente ou por setores. Sabemos, e isso tem sido amplamente divulgado pela mídia, que muitas pessoas não querem ir para esses lugares sob a alegação de que faltam condições mínimas (não somente para o exercício da profissão de forma decente e responsável, mas para educação, lazer e outros itens necessários a uma boa qualidade de vida do próprio profissional e de suas famílias). Falar de qualidade de vida é falar de desenvolvimento sob todos os seus aspectos e não somente o econômico: não adianta pagar altos salários (como temos visto muitos governadores e prefeitos anunciando) se os municípios não oferecem a menor condição para se ter uma vida decente.

Agora, independentemente disso, há um outro lado da questão, muito mais complexo e que precisa ser, pelo menos, levantado. Coloquemos as mãos nas nossas consciências respondamos: quantos estudantes de medicina nós conhecemos que topariam (mesmo ganhando mais e com melhores condições de educação, saúde etc. para seus eventuais filhos) uma empreitada tipo Médicos Sem Fronteiras ou outra iniciativa semelhante, com uma boa dose de altruísmo, despojamento que faz parte, inclusive, do juramente de Hipócrates (que por muitos é entendido - com o perdão do trocadilho tosco - como "juramento do hipócrita"), ao invés de sonhos Louis Vuitton e consultório no Itaim Bibi? Conheço muitos médicos para os quais estendo um tapete vermelho por esta dedicação, pelo altruísmo, despojamento e longa experiência já tiveram exercendo uma medicina realmente humanitária, próxima dos anseios e necessidades da população. Reconheçamos que, para uma parcela enorme daqueles que escolhem a medicina, o devaneio do status socioeconômico ainda é muito forte. O ser humano diante dele não é mais do que um mero protocolo, um conjunto de sintomas fisiológicos e não uma realidade social, psíquica e cultural que manifesta estes sintomas.

Aliás, retomando o ponto da formação médica, é curioso que são raríssimos os casos em que, na formação, o estudante de medicina tenha noções (que dirá um aprofundamento) de antropologia, filosofia, sociologia e ética (não confundir com a superficialidade de um código de conduto que não é de longe o que é a Ética para a filosofia).
Gostaria de ver esta discussão ultrapassar a pequenez dos argumentos do "sou contra Dilma/Padilha" e enveredar por assuntos que realmente importam.

Em suma, como diria o velho Magritte (ilustrado acima), recentemente parodiado nos 20 centavos: "Isto não é um cachimbo!"



Palavras Iniciais

Olá,

Bem vindo a um espaço que, antes de mais nada, é despretensioso. Ou melhor, se há alguma pretensão é a de exercitar a arte da escrita, refletindo livremente sobre fatos, idéias, cinema, filosofia enfim, tudo o que valer a pena pensar.

Como se não bastasse a exigência da profissão, eu mesmo me impus a necessidade de registrar meus pensamentos os quais, reconheço, considero valiosos pela única e exclusiva razão de serem meus, de representarem meu ponto de vista sobre as coisas. Nada mais. É, pois, nesse exato sentido que me refiro à ausência de pretensão. Quero apenas falar. Falar livremente. E se o transeunte cibernético que por aqui se aventurar sentir que vale a pena iniciar um diálogo a respeito das idéias apresentadas (as quais, já adianto, não serão tão aprofundadas), vou sentir que terá alguma utilidade para além da minha própria extravasão.

Apesar de relativamente antigo, eu me esqueci completamente da criação deste espaço. Nele havia deixado, oculto, um único texto que resolvi publicar mesmo estando inacabado. A ele retorno com o propósito de alimentá-lo com mais frequência, o que para mim será extremamente benéfico, inclusive do ponto de vista pessoal. Vou aproveitar para registrar outros escritos, feitos em outras épocas - pré-internáuticas ainda - que certamente revelarão um outro Fred (principalmente para aqueles que já me conhecem).

Espero que o leitor que por aqui passar possa encontrar alguns pontos sobre os quais pensar. E, se sua generosidade permitir, deixar a contribuição de suas opiniões e seus pensamentos a respeito do que encontrar registrado para, inclusive, provocar minha contrarreflexão.

Boa leitura e obrigado pela visita.
Fred

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